Mateus

I

Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. Abraão gerou Isaque; Isaque gerou Jacó; Jacó gerou Judá e seus irmãos. Judá gerou Perez e Zera, de Tamar; Perez gerou Esrom; Esrom gerou Arão. Arão gerou Aminadabe; Aminadabe gerou Naassom; Naassom gerou Salmon. Salmon gerou Boaz, de Raabe; Boaz gerou Obede, de Rute; Obede gerou Jessé. Jessé gerou o rei Davi; Davi gerou Salomão, da mulher de Urias. Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa. Asa gerou Josafá; Josafá gerou Jorão; Jorão gerou Uzias. Uzias gerou Jotão; Jotão gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias. Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amom; Amom gerou Josias. Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia. Depois do exílio na Babilônia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel. Zorobabel gerou Abiúde; Abiúde gerou Eliacim; Eliacim gerou Azor. Azor gerou Sadoque; Sadoque gerou Aquim; Aquim gerou Eliúde. Eliúde gerou Eleazar; Eleazar gerou Matã; Matã gerou Jacó. Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo. Assim, todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; e, desde Davi até o exílio na Babilônia, catorze gerações; e, desde o exílio na Babilônia até o Cristo, catorze gerações. O nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes de se unirem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. José, seu marido, sendo justo e não querendo expô-la à desonra pública, resolveu deixá-la secretamente. Enquanto ponderava sobre isso, um anjo do Senhor apareceu a ele em sonho e disse: "José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi gerado procede do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados". Tudo isso aconteceu para cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: "A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamarão Emanuel" (que significa "Deus conosco"). Quando José acordou, fez como o anjo do Senhor lhe havia ordenado e recebeu Maria como sua esposa. Mas não teve relações conjugais com ela até que deu à luz um filho, a quem ele deu o nome de Jesus.

II

No tempo do Rei Herodes, em Belém, na Judeia, Jesus nasceu. Naqueles dias, alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, dizendo: "Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Pois vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo." O rei Herodes ficou perturbado ao ouvir isso, e toda Jerusalém com ele. Ele convocou todos os principais sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde o Cristo deveria nascer. Eles responderam: "Em Belém da Judeia, pois assim está escrito pelo profeta: 'E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo Israel.'" Então Herodes chamou secretamente os magos e, por meio deles, procurou saber exatamente quando a estrela tinha aparecido. Ele os enviou a Belém, dizendo: "Ide, e perguntai diligentemente pelo menino; e, quando o achardes, comunicai-me, para que eu também vá e o adore." Depois de ouvirem o rei, partiram; e eis que a estrela que tinham visto no Oriente os precedia, até que, chegando, parou sobre onde estava o menino. Ao verem a estrela, alegraram-se eles com grande e intenso júbilo. Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Sendo por divina revelação avisados em sonhos para não voltarem a Herodes, retornaram à sua terra por outro caminho. Depois que partiram, eis que um anjo do Senhor apareceu a José em sonho, dizendo: "Levanta-te, pega o menino e sua mãe, foge para o Egito e fica lá até que eu te avise; pois Herodes vai procurar o menino para matá-lo." Então José se levantou, tomou o menino e sua mãe, de noite, e partiu para o Egito. Lá ficou até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo profeta, dizendo: "Do Egito chamei o meu Filho." Quando Herodes percebeu que tinha sido enganado pelos magos, ficou furioso e ordenou a matança de todos os meninos em Belém e em toda a sua região, de dois anos para baixo, conforme o tempo que tinha aprendido dos magos. Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias, dizendo: "Ouviu-se uma voz em Ramá, pranto e grande lamentação: Raquel chora por seus filhos, e não quer ser consolada, porque já não existem." Depois da morte de Herodes, um anjo do Senhor apareceu em sonho a José no Egito, dizendo: "Levanta-te, pega o menino e sua mãe e vá para a terra de Israel, pois já morreram os que procuravam tirar a vida do menino." Então ele se levantou, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel. Mas, ouvindo que Arquelau reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, teve receio de ir para lá. Avisado em sonho, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: "Ele será chamado Nazareno."

III

Naqueles dias, João Batista veio pregando no deserto da Judeia, proclamando: "Arrependei-vos, pois o Reino dos céus está próximo." Este é aquele de quem foi dito pelo profeta Isaías: "Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas." O próprio João usava um manto de pelos de camelo e uma cinta de couro em torno dos seus rins, e a sua comida era de gafanhotos e mel silvestre. Então, Jerusalém, toda a Judeia e toda a região em volta do Jordão iam até ele, confessavam os seus pecados, e eram batizados por ele no rio Jordão. Quando João viu muitos fariseus e saduceus vindo para o seu batismo, disse-lhes: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento. E não presumais dizer dentro de vós mesmos: 'Temos por pai Abraão'; porque eu vos digo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. E também, já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo. Eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele tem a pá na mão e limpará a sua eira, recolhendo o seu trigo no celeiro, e queimará a palha com fogo inextinguível." Naquela época, Jesus veio da Galileia ao Jordão para ser batizado por João. João, porém, opunha-se, dizendo: "Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim?" Jesus, porém, lhe respondeu: "Deixa por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a justiça." Então ele o permitiu. E Jesus, depois de ter sido batizado, saiu logo da água; e eis que se abriram os céus, e ele viu o Espírito de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo."

IV

Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. E o tentador, aproximando-se, disse-lhe: "Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães." Ele, porém, respondendo, disse: "Está escrito: 'Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.'" Então o diabo o transportou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e disse-lhe: "Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: 'Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem'; e: 'Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares com o teu pé em pedra.'" Disse-lhe Jesus: "Também está escrito: 'Não tentarás o Senhor, teu Deus.'" Novamente o diabo o transportou a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles; e disse-lhe: "Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares." Então disse-lhe Jesus: "Vai-te, Satanás, porque está escrito: 'Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele servirás.'" Então o diabo o deixou; e eis que vieram os anjos e o serviram. Ouvindo Jesus que João fora preso, retirou-se para a Galileia. Deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, situada à beira-mar, nos confins de Zebulom e Naftali, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: "Terra de Zebulom e terra de Naftali, caminho do mar, do outro lado do Jordão, Galileia dos gentios! O povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz; sim, aos que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou." Desde então começou Jesus a pregar, dizendo: "Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus." Caminhando junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores. E disse-lhes: "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens." Eles, pois, deixaram imediatamente as redes e o seguiram. Prosseguindo dali, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco com seu pai Zebedeu, consertando as redes; e chamou-os. Eles, deixando imediatamente o barco e seu pai, seguiram-no. E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas deles, pregando o evangelho do Reino e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. E a sua fama correu por toda a Síria; trouxeram-lhe, pois, todos os que padeciam diversas enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos e os paralíticos, e ele os curou. E muitas multidões o seguiram, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e do outro lado do Jordão.

V

Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos. E, abrindo a boca, os ensinava, dizendo:

"Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o Reino dos céus.

Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.

Bem-aventurados os mansos, pois herdarão a terra.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados.

Bem-aventurados os misericordiosos, pois alcançarão misericórdia.

Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.

Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.

Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.

Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa.

Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus, pois assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.

Vós sois o sal da terra; mas, se o sal perder o seu sabor, com que se há de restaurar-lhe o sabor? Para nada mais presta senão para ser lançado fora, e ser pisado pelos homens.

Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem os que acendem uma candeia a colocam debaixo do alqueire, mas no velador, e assim ilumina a todos que estão na casa.

Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.

Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, mas para cumprir.

Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da Lei, até que tudo seja cumprido.

Portanto, qualquer que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus.

Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no Reino dos céus.

Ouvistes que foi dito aos antigos: 'Não matarás; e quem matar será réu de juízo.'

Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: 'Raca', será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: 'Louco', será réu do fogo do inferno.

Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.

Concorda com o teu adversário depressa, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.

Em verdade te digo que de lá não sairás antes que pagues o último ceitil.

Ouvistes que foi dito aos antigos: 'Não adulterarás.'

Eu, porém, vos digo que qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura no coração, já adulterou com ela.

Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te é mais proveitoso que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.

E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te é mais útil que se perca um dos teus membros do que vá todo o teu corpo para o inferno.

Também foi dito: 'Quem repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio.'

Eu, porém, vos digo que todo aquele que repudia sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a faz com que ela cometa adultério; e aquele que casar com a repudiada comete adultério.

Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: 'Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos.'

Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei; nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disso é de procedência maligna.

VI

Observai a vossa justiça, não a praticando diante dos homens para serdes vistos por eles; de outra forma, não tereis recompensa junto a vosso Pai, que está nos céus.

Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa. Mas tu, quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita,

para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, Ele mesmo te recompensará em público.

E quando orardes, não sejais como os hipócritas; pois gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará em público.

E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que serão ouvidos por sua muita fala.

Não vos assemelheis, pois, a eles, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes.

Portanto, orai assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu nome;

venha o Teu reino, seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu;

o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;

e não nos deixes entrar em tentação, mas livra-nos do mal. [Pois Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém.]

Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós;

se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas.

Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.

Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto,

para não mostrar aos homens que estás jejuando, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.

Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem, e onde ladrões escavam e roubam;

mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam.

Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.

O olho é a lâmpada do corpo. Sendo assim, se teu olho for saudável, todo o teu corpo será luminoso;

se, porém, teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há são trevas, que tremendas trevas serão!

Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.

Portanto, eu vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?

Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas?

Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura?

E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam.

Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?

Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? (Pois a todas essas coisas os gentios procuram.) Porque vosso Pai celestial sabe que necessitais de tudo isso. Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.

VII

Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. E por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando há uma trave no teu?

Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.

Não deis o que é santo aos cães, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.

Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra?

Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma cobra? Ora, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem.

Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas.

Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela.

Porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.

Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.

Pelos seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore má, frutos bons.

Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.

Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.

Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.

Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?

Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.

Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e chuva desceu, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína. Ao concluir Jesus este discurso, as multidões se maravilhavam da sua doutrina; porque as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.

VIII

Quando Jesus desceu da montanha, muitas multidões o seguiram. Eis que um leproso aproximou-se, adorando-o e disse: "Senhor, se quiseres, podes purificar-me!" Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: "Quero; sê purificado!" E imediatamente sua lepra foi purificada. Então Jesus lhe disse: "Vê que não o digas a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho a eles." Quando Jesus entrou em Cafarnaum, um centurião aproximou-se dele, suplicando: "Senhor, o meu servo está em casa paralítico, sofrendo horrivelmente."

Jesus lhe disse: "Eu irei e o curarei." O centurião respondeu: "Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu teto, mas apenas dize uma palavra, e o meu servo será curado. Pois eu também sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens. Digo a este: 'Vai', e ele vai; e a outro: 'Vem', e ele vem. Digo a meu servo: 'Faze isto', e ele o faz."

Ao ouvir isso, Jesus ficou maravilhado e disse aos que o seguiam: "Em verdade vos digo que em Israel não encontrei em ninguém tamanha fé.

Digo-vos que muitos virão do oriente e do ocidente e se assentarão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus,

mas os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes." Então, Jesus disse ao centurião: "Vai! Como creste, seja feito contigo." E, naquela mesma hora, o seu servo foi curado.

Quando Jesus chegou à casa de Pedro, viu a sogra de Pedro de cama, com febre.

Jesus tocou na mão dela, e a febre a deixou. Ela se levantou e começou a servi-lo.

Ao anoitecer, trouxeram a Jesus muitos endemoninhados, e ele expulsou os espíritos com uma palavra e curou todos os doentes,

para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías: "Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas doenças".

Quando Jesus viu uma grande multidão ao seu redor, ordenou que passassem para o outro lado do mar.

Então, um escriba aproximou-se e disse: "Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores."

Jesus respondeu: "As raposas têm suas tocas, e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça".

Outro dos discípulos disse: "Senhor, permite-me ir primeiro sepultar meu pai".

Mas Jesus respondeu: "Segue-me e deixa que os mortos sepultem os seus próprios mortos".

Ao entrar na barca, seus discípulos o seguiram. E eis que sobreveio no mar uma grande tempestade, de modo que a barca estava sendo coberta pelas ondas; ele, porém, dormia. Então, aproximando-se de Jesus, eles o acordaram, dizendo: "Senhor, salva-nos! Estamos perecendo!"

Ele lhes disse: "Por que sois tão tímidos, homens de pequena fé?" Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar, e fez-se uma grande bonança.

Os homens se maravilharam, dizendo: "Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?"

Quando ele chegou à outra margem, à região dos gadarenos, foram-lhe ao encontro dois endemoninhados, que vinham dos sepulcros; eram tão violentos que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que clamaram: "Que temos nós contigo, Jesus, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?"

Ora, a alguma distância deles, estava uma grande manada de porcos pastando.

Os demônios imploraram a Jesus: "Se nos expulsas, permite-nos ir para aquela manada de porcos".

Jesus lhes disse: "Ide!" Eles saíram e foram para a manada de porcos. E eis que toda a manada precipitou-se mar abaixo, pelo despenhadeiro, e morreu nas águas.

Os pastores fugiram, foram à cidade e contaram tudo, inclusive o que acontecera aos endemoninhados.

Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus, e, vendo-o, pediram que se retirasse da região deles.

IX

Embarcando em um barco, Jesus atravessou e chegou à sua própria cidade. E eis que trouxeram a ele um paralítico deitado em uma cama. Vendo a fé deles, Jesus disse ao paralítico: "Coragem, filho; os teus pecados estão perdoados." Alguns dos escribas, porém, disseram consigo mesmos: "Este homem blasfema!"

Jesus, conhecendo os pensamentos deles, perguntou: "Por que vocês pensam o mal em seus corações?

Pois o que é mais fácil, dizer: 'Os teus pecados estão perdoados', ou dizer: 'Levanta-te e anda'?

No entanto, para que saibam que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados, disse então ao paralítico: "Levanta-te, toma a tua cama e vai para casa."

E ele se levantou e foi para casa. Vendo isso, a multidão ficou maravilhada e glorificou a Deus, que dera tal autoridade aos homens.

Ao sair dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: "Segue-me!" E ele se levantou e o seguiu.

Enquanto Jesus estava à mesa, em casa de Mateus, muitos cobradores de impostos e pecadores vieram e se sentaram com ele e seus discípulos.

Os fariseus, vendo isso, disseram aos discípulos: "Por que o vosso Mestre come com os publicanos e pecadores?". Mas Jesus, ouvindo isso, respondeu-lhes: "Os sãos não precisam de médico, mas sim os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: 'Misericórdia quero, e não sacrifício.' Pois eu não vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento." Partindo dali, Jesus foi seguido por dois cegos, clamando: "Tem compaixão de nós, Filho de Davi!"

E, entrando em casa, os cegos aproximaram-se dele, e Jesus lhes perguntou: "Credes que eu posso fazer isso?" Responderam-lhe: "Sim, Senhor."

Então Jesus tocou-lhes os olhos, dizendo: "Conforme a vossa fé vos seja feito."

E seus olhos se abriram. Jesus os advertiu severamente, dizendo: "Vede que ninguém saiba disso."

Mas eles, saindo, divulgaram a sua fama por toda aquela terra. Ao saírem, trouxeram-lhe um mudo, endemoninhado.

E expulso o demônio, o mudo falou. E a multidão, maravilhada, dizia: "Jamais se viu algo assim em Israel!"

Mas os fariseus diziam: "Ele expulsa os demônios pelo príncipe dos demônios." Jesus percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do Reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades.

Ao ver as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas que não têm pastor.

Então disse aos seus discípulos: "A seara é realmente grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara, que envie trabalhadores para a sua seara.

X

Ao chamar os doze discípulos, Jesus deu-lhes autoridade sobre espíritos impuros, para expulsá-los e curar todas as doenças e enfermidades. Os nomes dos doze apóstolos são: primeiro Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o coletor de impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o zelote, e Judas Iscariotes, que também o traiu. Jesus os enviou, instruindo-os da seguinte maneira: "Não vão pelos caminhos dos gentios, nem entrem em qualquer cidade dos samaritanos. Antes, dirijam-se às ovelhas perdidas da casa de Israel. À medida que vão, preguem esta mensagem: 'O Reino dos céus está próximo'. Curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. De graça receberam, de graça dêem. Não levem ouro, prata ou cobre em seus cintos; não levem saco de viagem, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bordão; pois o trabalhador merece o seu sustento. Quando entrarem numa cidade ou aldeia, procurem alguém digno e hospedem-se ali até partirem. Ao entrarem na casa, saúdem-na. Se a casa for digna, que a paz de vocês repouse sobre ela; se não for, deixem que a paz de vocês retorne para vocês. Se alguém não os receber ou não ouvir as suas palavras, saiam daquela casa ou cidade e sacudam o pó dos seus pés. Eu lhes digo a verdade: No dia do juízo, será mais tolerável para Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade. Eu os envio como ovelhas entre lobos. Portanto, sejam astutos como as serpentes e inofensivos como as pombas. Cuidado com os homens, pois eles os entregarão aos tribunais e os açoitarão em suas sinagogas. Por minha causa, vocês serão levados à presença de governadores e reis como testemunhas deles e dos gentios. Mas, quando o prenderem, não se preocupem quanto ao que falar ou como falar. Naquela hora lhes será dado o que dizer. Pois não serão vocês que estarão falando, mas o Espírito do Pai de vocês falará por meio de vocês. "Irmão entregará irmão à morte, e pai entregará filho. Filhos se voltarão contra os pais e os farão matar. Todos odiarão vocês por minha causa, mas aquele que perseverar até o fim será salvo. Quando vocês forem perseguidos numa cidade, fujam para outra. Eu lhes digo a verdade: Vocês não terminarão de percorrer as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem. "O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo acima do seu senhor. Basta ao discípulo ser como o seu mestre e ao servo ser como o seu senhor. Se chamaram Belzebu a mim, quanto mais aos membros da minha casa! Portanto, não tenham medo deles. Não há nada encoberto que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a ser conhecido. O que eu lhes digo na escuridão, falem à luz do dia; o que é sussurrado em seus ouvidos, proclamem dos telhados. Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno. Não se vendem dois pardais por uma moedinha? Contudo, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do Pai de vocês. Até mesmo os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Portanto, não tenham medo; vocês valem mais do que muitos pardais. "Quem me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante do meu Pai que está nos céus. Mas, se alguém me negar diante dos homens, eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus. Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Aquele que ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; aquele que ama seu

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